ARQUEOLOGIA DA PALAVRA
HELENA CARDOSO LIXA
Pesquisa desenvolvida para a Disciplina
de Interpretação, ministrada pela Prof. Dr. Lucia Romano.
UNESP/SP
ABRIL/2012
Arqueologia da Palavra
Termo escolhido: Representação
Ao pesquisarmos a linguagem teatral,
muitos termos aparecem em nosso discurso sem que de fato nos apropriemos das
diferentes significações da palavra. Com o propósito de esclarecer um caminho
de apropriação da palavra representação, tracei o seguinte percurso.
PAVIS (1999) elenca as imagens que o
termo representação sugere nos idiomas alemão, francês e inglês. Das Na
definição trazida da palavra inglesa performance,
representação seria: “...uma ação realizada (to perform) no próprio ato da apresentação (...) envolve ao mesmo
tempo palco e plateia (...) por toda a equipe que se ‘realiza’ cenicamente
(artística e socialmente)”. Por reunir os diversos elementos que compõem uma
apresentação cênica (atores, público, equipe técnica, tempo, espaço, ação) a
definição serve como nosso ponto de partida.
Na língua inglesa, performance pode ser utilizado em
diferentes contextos. Em primeiro lugar (conforme definição de The Routledge Companion to Theatre and
Performance, de Allain e Harvie, 2006), o termo designa um ato de
apresentar, na presença de uma plateia,
algo que foi previamente preparado. Tal uso da palavra se refere a
qualquer apresentação das artes performativas, incluindo o teatro, a dança, o
circo, as artes marciais, os happenings
e as apresentações improvisadas, entre outras. O termo também pode designar
todo comportamento social (incluindo o comportamento diário e ritual); o
rendimento, ou a capacidade de alcançar objetivos (como um motor de um carro,
as estratégias financeiras de uma empresa ou as conquistas de um atleta); a
arte da performance ou a body art (em
que se privilegia a presença e corporificação do artista com o objetivo de
reforçar uma narrativa, representação ou identidade coerente, que defendam
certos objetivos políticos); e a desconstrução da atuação (acting) no teatro nos moldes realistas de caracterização, (constituída
com o objetivo de questionar as “verdades” apresentadas em cena, como as
práticas dadaístas, futuristas e expressionistas e o teatro didático brechtiano).
Cada uma das definições acima traz
maneiras distintas de compreender o termo representação. A primeira definição
citada coincide com aspectos apresentados no verbete acting, que também relaciona-se à atividade de representar na cena
e no teatro: acting é a arte de representar no teatro, na qual o ator
emprega seu corpo e voz. Acting é ao
mesmo tempo intencional e teatral, em contraponto a outras formas de
representação (performance, no
original em inglês), como por exemplo um ritual ou um protesto. ALLAIN e HARVIE
(2006) esclarecem que a representação (acting)
é intencional, por se tratar do resultado de uma auto-reflexão do ator sobre
sua prática, sua estética e função social. Além disso, é teatral porque,
geralmente, é mimética: imitia aquilo reconhecido pelo senso comum por
realidade. Por esta razão, a representação está relacionada a seu contexto
social e nele interfere.
Com relação à função da representação
e como ela é realizada, ALLAIN e HARVIE (2005) pontuam que o treinamento físico
e intelectual ganhou forte aceitação em fins do século XIX, e dele derivam
conceitos difundidos desde meados do século XX, tais como foco, controle,
pesquisa, preparação psicofísica e interpretação de texto. Entretanto,
ressaltam que ainda hoje a espontaneidade, a presença e a “ação realizada (to perform) no próprio ato da
apresentação” - ainda são facetas da representação consideradas nos estudos
teatrais contemporâneos.
Para BARBA e SAVARESE, a criação de um
sistema corpo-mente orgânico tem implicações na representação. Um corpo que
responde a todo impulso mental pede a integração entre as sensibilidades
cênicas. A construção dessas sensibilidades e sua relação são condições básicas
para a criação de um personagem (character)
e de um papel (role), conceitos
definidos na teoria de Stanislavsky, a qual serve de base para toda a
estruturação da metodologia de Barba ali discutida.
Para FERRACINI, a representação dá-se
por meio de ações físicas e vocais orgânicas, retiradas de um vocabulário
próprio. Ações físicas podem ser divididas em duas partes complementares: a
corporeidade (aspectos internos da ação) e a fisicidade (aspectos formais da
ação). Qualquer intenção de semântica ou expressividade é ação física, não
limitando a transmissão de um significado somente ao texto dramatúrgico. Este
conceito amplia a definição de representação para além dos limites da
representação textocêntrica, ainda frequente nos palcos ocidentais na
contemporaneidade.
BIBLIOGRAFIA
ALLAIN,
Paul & HARVIE, Jen. The Routledge
Companion to Theatre and Performance. Londres: Routledge, 2005.
BARBA,
Eugenio & SAVARESE, Nicola. A
dictionary of theatre anthropology: the secret art of the performer. Londres: Routledge, 1991.
FERRACINI, Renato. A arte de não interpretar como poesia
corpórea do ator. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.
PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999.
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