Monday, August 27, 2012

Aula do dia 27/08/2012


  • Palheta dos verbos: 
0 Soprar, suspirar, bocejar
1 Roncar
2 Cochichar, sussurrar
3 Cantarolar para si mesmo, grunhir, balbuciar
4 Salmodiar, confessar, resmungar, conversar socialmente
5 Anunciar, contar piada, apresentar, chamar
6 Convencer, doutrinar, pregar, clamar
7 Torcer, exaltar, gritar, protestar
8 Imprecar, invocar, amaldiçoar
9 Urrar, gritar desesperadamente, exorcizar

Pegar um trecho de um texto ou canção e experimentar maneiras de dizê-lo, usando as indicações acima, variando as intensidades, se movimentando pelo espaço e mudando as posições do corpo, para que, assim, se tenha a sensação da voz produzida em todo o corpo.


  • Emoções:
2 grupos/coros, cada um com um regente. Cada indivíduo do coro escolhe uma emoção (ansiedade, medo, raiva, paixão, angústia, agonia, alegria, tristeza, entre outras) para expressá-la por meio de sons abstratos, não esquecendo o resto do corpo. Questão: Quais ações e gestos podem ajudar a expressar a emoção? O regente vai compondo com o coro, variando a intensidade. Depois, troca-se o regente. E, agora, além dos sons abstratos, tem-se texto improvisado também para expressar a emoção. Lembrando sempre de variar os recursos sonoros e corporais.


  • Palma e história:
Caminhando pelo espaço, encontrar alguém e formar uma dupla. Um levanta a mão, deixando a palma de frente para o colega, este vai focar na palma, seguindo-a conforme a movimentação do outro. Quem está seguindo, vai contar uma história para a palma e quem a movimenta, ouve. Depois, invertem-se: quem ouviu, segue a palma e conta a história.
A seguir, troca-se a dupla. O mesmo exercício, porém, agora, quem movimenta a palma pode batê-la, trocando a mão levantada; quando isso ocorrer, quem conta a história deve, imediatamente, iniciar uma nova. Assim que a palma for batida novamente, o contador da história volta para a anterior, e assim vai. Depois, invertem-se os papéis.
Após um tempo, quem está conduzindo, pode sair da sua dupla e "roubar" a pessoa de outra dupla, esta, ao ver a nova palma, deve iniciar uma nova história.


  • Roda de histórias
Todos sentados, em roda. Cada um vai contar para o grupo a história que achou mais interessante ou gostou mais de ouvir, mas vai contar como se fosse a sua história.
Questões: Quais são os elementos das histórias contadas? Por que você escolheu esta história para contar?
Algumas respostas:

  • 1ª pessoa;
  • Detalhamento da narrativa;
  • Movimentos: mudanças de personagens, mudanças no roteiro;
  • Tema: identificação com a história ou o choque, a surpresa pelo absurdo do tema;
  • Curiosidade;
  • Imaginação.
Ainda em roda, fecham-se os olhos para tentar lembrar de todas as personagens que surgiram nas histórias. Depois, cada um descreve rapidamente essas personagens.

***

Algumas imagens para ilustrar as emoções corporificadas que percebi observando os colegas:



Texto por Raquel Zichelle.

Sunday, August 12, 2012

Recomeçando... (Aula do dia 07/08/12)


Como era de se esperar, começamos com uma pequena conversa. Logo em seguida, partimos para um trabalho com bolinhas de tênis... É engraçado dizer, mas a primeira coisa que me veio a mente ao me ver "brincando" com uma bolinha, ao observar todos aparentemente"brincando", foi a sensação de ser criança... Uma criança que explora enquanto brinca, que percebe enquanto imagina... Então resolvi descrever essa primeira parte da  aula em forma de poesia, uma poesia simples ou, por que não dizer?, boba! Mas que descreverá todos os exercícios dessa primeira parte da aula...

Cada um com uma simples bolinha:
bolinha pra cima, bolinha pra baixo
rápida, devegar, longe e pertinho
Não importa o movimento criado sozinho

A ideia  é entender a relação,
explorar as possibilidades
Chão, parede, perna, braço, mão
Lançar e receber
Sensações a perceber e registros a fazer.

Agora duas pessoas
E uma bolinha somente
a exploração é igual e diferente
Três pessoas:
O jogo da relação já começa a complicar
A bolinha move o grupo, no espaço e no ritmo
Lançar e receber ainda mais nítido.

Agora sozinhos novamente, 
sem bolinha, seguindo orientações
Lançar e receber...
Dessa vez, só corpo e mente

Mais um exercício foi proposto,
Todos na roda e cada um com uma bolinha
É para jogar para o outro
Começa com uma e vai aumentando
São fogos de artifício dentro da roda
Bolinhas de todo lado. Atenção dobrada!
É necessária concentração 
Tanto na espera quanto na ação!

Agora separados e deitados no chão
O corpo recorda os registros
Move-se como quem dorme atormentado 
Começa um jogo de simulação
A lembrança de tudo que se passou
e, em cada momento, o impulso que ficou.


Intervalo

Já na segunda parte da aula, uma temos uma nova conversa, ou melhor, continuamos a conversa inicial para planejamento do semestre. Cito aqui alguns pontos, resumidamente:
- Primeiras apresentações das cenas (Projeto Laboratório de Cena), a partir do dia 15/10
- Seminários: Stanislawski: 03/09 e 10/09
                    Brecht: 10/09 e 17/09
                    Grotowski: 24/09 e 1/10
                    Barba: 1/10 e 8/10

No restinho de aula, nos dividimos em grupos, cada um dos quais deveria ler uma crônica do Marcelo Rubens Paiva - DASLÚMPEN, e montar um roteiro de ação, um roteiro de improviso. 
Em seguida cada unidade, deveria ser "traduzida" para uma imagem. A mudança das unidades deveria partir do detentor da ação.
Somente um grupo pode apresentar por conta do horário. A história ficou clara e a turma conseguiu identificar as unidades da história e, inclusive, os personagens e o tempo da ação (presente/flash-back).

Sunday, July 8, 2012

Ofina nas Férias!!!!

Prezados amigos!



Chegamos ao mês de julho com mais apresentações, uma nova oficina e um motivo especial para comemorar! Acompanhem:


Oficina "Bixiga Mind Centering"

Como parte das atividades da residência artística do Grupo 59 na sede do Teatro de Narradores, a atriz Tatiana Heide ministra a oficina "Bixiga Mind Centering - estudos do corpo e expressividade". As inscrições são gratuitas e a oficina acontece entre 16 e 24 de julho.
Mais informações no flyer anexo ou pelo e-mail contato@grupo59.com.br


Gato Malhado no Maquinaria, em São Paulo

Mais uma oportunidade para ver ou rever "O Gato Malhado e a Andorinha
Sinhá" em São Paulo. As apresentações acontecem no Espaço Maquinaria (Rua Treze de Maio, 240), no Bixiga, nos dias 21 e 22 de julho, às 16:00h, com entrada gratuita. Aí está uma boa dica para as férias escolares!



Um abraço,

Grupo 59 de Teatro
www.grupo59.com.br

Monday, June 25, 2012

Aula das "situações" - Parte 2

Depois dos jogos e improvisos, partimos para a leitura de um texto: "A Terceira Jornada", contido no Manual Mínimo do Ator, de Dario Fo.
Nesse texto, uma das palavras em destaque é: situações. Para cada gênero e história, Fo aponta os aspectos importantes da dramaturgia para "atarrachar o espectador na cadeira do teatro"; ou seja, para prender a atenção da plateia.
Para mostrar diferentes situações, alguns exemplos são tomados, dentre eles Hamlet e seus aspectos psicodramáticos, que permitem prender a atenção do espectador por meio do assassinato e o mistério que envolve a cena; ou seja, por meio de um acontecimento externo, que faz com que as personagens mudem de ações, comportamentos e relações.
Outra exemplificação do autor italiano é com relação ao gênero cômico, cujas caracteristicas aparecem por meio dos mecanismos de situações propostas pelas articulações das  personagens, cuja aparição é quase sempre com relação ao seu caráter ingênuo em detrimento da ausência de consciência com relação às situações.

Jogo das Estátuas - Em dupla, os participantes deveriam escolher uma imagem de uma estátua. Depois, deveriam analisá-la para tentar reproduzi-lá por meio do corpo. Feito isso, deveriam criar 7 situações diferentes para mostrar, por meio de uma narrativa*, momentos com "saltos" acentuados. Exemplo: Maria está dormindo. Maria está tomando café. Maria está dirigindo. Maria sofre um acidente de carro...

No final da aula, conversamos sobre os aspectos de cada estátua a partir de fotos tiradas por Lúcia Romano no celular.
As fotos foram importantes para percebermos os "saltos" das situações que, transpostas em cena, poderiam provocar mudanças de energia e uma melhor relação com o outro jogador.

*Nesse caso, a narrativa não era falada e também não se referia à um gênero em específico, pelo contrário, pois os participantes poderiam fazer ligações entre imagens abstratas -por exemplo- criando outro tipo de narração.

Aula das "situações"

Hoje, começamos a aula com um jogo em dupla, com o objetivo de aquecer os participantes e de proporcionar uma pesquisa com relação aos diferentes estados suscitados em cena:
1. Jogo dos Movimentos - Em duplas, escolhemos um movimento a ser realizado. Esse movimento deveria ser feito de diversas maneiras conforme as alternâncias de seu tempo rítmico.
2. Depois experimentamos andar pela sala e "roubar" outros movimentos, de outras duplas.
3. Executando o movimento incial e o "roubado" de outros participantes- alternando seu ritmo, intensidade, curvas de energia, combinações, contrastes, entre outros- as duplas se apresentaram à plateia para que ora o exercício pudesse ser  observado e ora experimentado.
 4. Para dar continuidade ao trabalho, Lúcia pediu que os participantes jogassem um outro jogo, juntamente com o Jogo dos Movimentos. Esse exercício se chama o Jogo da Luta, em que um dos participantes deve escolher algum membro do corpo do outro para "golpeá-lo" por meio da palavra falada; nisso, o participante que for "atacado" deve desviar o membro escolhido e, logo em seguida, atacar da mesma forma, fazendo suas escolhas conforme as necessidades* do jogo estabelecido.
5. Para finaliza a primeira parte da aula, algumas pessoas ficaram como plateia enquanto outras foram para a cena. Um novo jogo portanto foi estabelecido: SOBADISSODOMA E CALISSO, em que uma pessoa diz sobadissodoma e a outra, calisso, respondendo à primeira. Em cada fala um novo movimento deveria ser criado, acompanhado da voz, para que o sentido da cena fosse modificado. A resposta, com isso, deveria estar de acordo com o movimento do primeiro jogador, e não indiferente a ele. Tratava de jogar com o outro e não com a plateia, já que o objetivo era estabelecer relações com o jogador, mudando sempre as situações.

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* As necessidades da jogo estão relacionadas com as relações entre os participantes, ora criando momentos de tensão, ora de aproximação, ora de repulsa, ora de lentidão, ora de distanciamento, e assim por diante.

Thursday, June 21, 2012

Aula do dia 18/jun/2012 - Surpresa e Relação

O encontro dessa segunda-feira iniciou-se com questionamentos e reflexões da aula anterior. Como descobrir, manter, variar um estado do corpo e um estado da voz para que se mantenha a ação viva, pulsante? Caímos no que chamamos de SURPRESAS, que seriam as mudanças de intensidade.
Uma imagem interessante é o do cardiograma como sendo uma linha que corresponde ao fluxo de energia com variações que correspondem às mudanças, necessárias a esse pulso...


Uma observação que acho interessante destacar: mesmo a mudança tem de ter um tempo de permanência  pois quando há muitas mudanças súbitas, não há uma mudança de fato... 

Juntos, listamos de que maneira essas surpresas poderiam aparecer (levando em consideração os improvisos da aula anterior):
  • na relação ENTRE AS PERSONAGENS
  • na relação ENTRE ATORES E ESPECTADORES
  • na relação COM O OBJETO
  • na apresentação de ESTADOS LIMÍTROFES DO CORPO
  • na criação de um clima, envolvendo: o SOBRENATURAL, o SEGREDO, o MISTÉRIO, a SUSPENSÃO DE TEMPO
  • na criação de CONFLITOS (não apenas de caráter psicológico...)
  • na mudança de ESTILOS
Essa lista ainda está incompleta (acredito eu!) Ainda temos de buscar e experimentar outras formas de encontrar essas surpresas, para que, quem sabe, conseguir um dia pescar o tal  Peixe Dourado do qual Peter Brook já nos falou...

Encerrada a conversa, botamos a "mão na massa" - começamos nossos trabalhos práticos.

- Jogo do Adeus: todos andando pelo espaço, quando alguém diz "adeus", esta pessoa cai ao chão (como que morrendo) e o grupo deve ajudá-la nessa descida

Algumas questões para reflexão: Que mudanças podem ser feitas para que haja também uma mudança na intensidade da energia do grupo? Que postura ter para sustentar o jogo e mantê-lo "coletivo"?

- Jogo de Pega: Primeiramente, todos andando pela sala e um escolhe alguem para pegar... Ao sinal, cada um pega quem havia pensado ao mesmo tempo que tenta não ser pego. Conclusão: simplesmente não houve jogo! Cada um grudou no outro e pronto. Regras foram acrescentadas: ao ouvir o sinal congela, você só pode pegar seu alvo dando dois passos. Quem é pego sai, quem ficou escolhe outra pessoa (ou permanece com a mesma se preferir). O jogo começou a se desenvolver. Mais complicotes:  cada pegador terá um anjo (que o defende) e um demônio (que lhe ajuda a alcançar o alvo), as outras permanecem. Num primeiro momento a movimentação do anjo e do demônio é livre, depois passa a ser guiada pela contagem de passos tal como para o pegador.

Questão para reflexão: O que deixou o jogo mais interessante?
Algumas possíveis respostas: O fato de criar possibilidades, estratégias, tensão, certa suspensão do tempo...

- Improviso - Função
Dividiu-se em grupos de 5, cada um deveria criar uma cena onde cada integrante desempenharia uma função:

Personagem 1 --------------------- Personagem 2
       |                              |                          |
Ajudante 1                     |                 Ajudante 2
                      Acontecimento Externo

Um dos grupos ficou com 6 integrantes, sendo a este dado a função de se um personagem coringa.

Alguns comentários e algumas questões para reflexão: As vezes as funções ficavam bem claras para quem assistia, outras se confundiam e outras ainda se transformavam no decorrer da cena. É interessante pensar quais estratégias foram exploradas em cada um dos grupos? O que funcionou em cena? O que não funcionou? Como oferecer obstáculos para melhorar  a cena? Como manter a SURPRESA tão conversada no inicio da aula.

- Papel dos verbos: formou-se uma roda, em seu centro havia vários papéis com uma pequena lista de verbos. Cada um escolheu um papel e em seguida um verbo desse papel. A partir desse verbo, cada um deveria escrever outros 6 verbos ou ações que funcionariam como um caminho ou estratégias para a realização daquele verbo escolhido inicialmente.

Questãozinha: Que tipo de verbo oferece mais possibilidade de ação? Por exemplo, vervos óbveis não são tão interessantes porque não nos dão a possibilidade de agir de diferentes formas para fisicalizar o mesmo verbo.  

- Improvisação dos papéis: em duplas. Em cena dois banquinhos. Cada qual deve tentar materializar aquele caminho pensado para a realização do verbo do papel, os banquinhos funcionam como possibilidade de se estabaler as nuances da relação, por exemplo, se você estranhou a ação do outro, você afasta o banquinho, caso contrário, se você gostou, você aproxima o banquinho... Essa foi uma possibilidade de interagir com o banquinho, mas houve várias formas e alterntivas durante as (poucas) cenas utilizando-o como apoio, como objeto resignificado....

Últimas questões para reflexão: Como estabelecer a relação? Como fisicalizar ou espacializar os verbos?



Monday, June 18, 2012



ARQUEOLOGIA DA PALAVRA




HELENA CARDOSO LIXA




Pesquisa desenvolvida para a Disciplina de Interpretação, ministrada pela Prof. Dr. Lucia Romano.



UNESP/SP
ABRIL/2012



Arqueologia da Palavra
Termo escolhido: Representação

Ao pesquisarmos a linguagem teatral, muitos termos aparecem em nosso discurso sem que de fato nos apropriemos das diferentes significações da palavra. Com o propósito de esclarecer um caminho de apropriação da palavra representação, tracei o seguinte percurso.
PAVIS (1999) elenca as imagens que o termo representação sugere nos idiomas alemão, francês e inglês. Das Na definição trazida da palavra inglesa performance, representação seria: “...uma ação realizada (to perform) no próprio ato da apresentação (...) envolve ao mesmo tempo palco e plateia (...) por toda a equipe que se ‘realiza’ cenicamente (artística e socialmente)”. Por reunir os diversos elementos que compõem uma apresentação cênica (atores, público, equipe técnica, tempo, espaço, ação) a definição serve como nosso ponto de partida.
Na língua inglesa, performance pode ser utilizado em diferentes contextos. Em primeiro lugar (conforme definição de The Routledge Companion to Theatre and Performance, de Allain e Harvie, 2006), o termo designa um ato de apresentar, na presença de uma plateia,  algo que foi previamente preparado. Tal uso da palavra se refere a qualquer apresentação das artes performativas, incluindo o teatro, a dança, o circo, as artes marciais, os happenings e as apresentações improvisadas, entre outras. O termo também pode designar todo comportamento social (incluindo o comportamento diário e ritual); o rendimento, ou a capacidade de alcançar objetivos (como um motor de um carro, as estratégias financeiras de uma empresa ou as conquistas de um atleta); a arte da performance ou a body art (em que se privilegia a presença e corporificação do artista com o objetivo de reforçar uma narrativa, representação ou identidade coerente, que defendam certos objetivos políticos); e a desconstrução da atuação (acting) no teatro nos moldes realistas de caracterização, (constituída com o objetivo de questionar as “verdades” apresentadas em cena, como as práticas dadaístas, futuristas e expressionistas e o teatro didático brechtiano).
Cada uma das definições acima traz maneiras distintas de compreender o termo representação. A primeira definição citada coincide com aspectos apresentados no verbete acting, que também relaciona-se à atividade de representar na cena e no teatro: acting é a arte de representar no teatro, na qual o ator emprega seu corpo e voz. Acting é ao mesmo tempo intencional e teatral, em contraponto a outras formas de representação (performance, no original em inglês), como por exemplo um ritual ou um protesto. ALLAIN e HARVIE (2006) esclarecem que a representação (acting) é intencional, por se tratar do resultado de uma auto-reflexão do ator sobre sua prática, sua estética e função social. Além disso, é teatral porque, geralmente, é mimética: imitia aquilo reconhecido pelo senso comum por realidade. Por esta razão, a representação está relacionada a seu contexto social e nele interfere.
Com relação à função da representação e como ela é realizada, ALLAIN e HARVIE (2005) pontuam que o treinamento físico e intelectual ganhou forte aceitação em fins do século XIX, e dele derivam conceitos difundidos desde meados do século XX, tais como foco, controle, pesquisa, preparação psicofísica e interpretação de texto. Entretanto, ressaltam que ainda hoje a espontaneidade, a presença e a “ação realizada (to perform) no próprio ato da apresentação” - ainda são facetas da representação consideradas nos estudos teatrais contemporâneos.
Para BARBA e SAVARESE, a criação de um sistema corpo-mente orgânico tem implicações na representação. Um corpo que responde a todo impulso mental pede a integração entre as sensibilidades cênicas. A construção dessas sensibilidades e sua relação são condições básicas para a criação de um personagem (character) e de um papel (role), conceitos definidos na teoria de Stanislavsky, a qual serve de base para toda a estruturação da metodologia de Barba ali discutida.
Para FERRACINI, a representação dá-se por meio de ações físicas e vocais orgânicas, retiradas de um vocabulário próprio. Ações físicas podem ser divididas em duas partes complementares: a corporeidade (aspectos internos da ação) e a fisicidade (aspectos formais da ação). Qualquer intenção de semântica ou expressividade é ação física, não limitando a transmissão de um significado somente ao texto dramatúrgico. Este conceito amplia a definição de representação para além dos limites da representação textocêntrica, ainda frequente nos palcos ocidentais na contemporaneidade.



BIBLIOGRAFIA

ALLAIN, Paul & HARVIE, Jen. The Routledge Companion to Theatre and Performance. Londres: Routledge, 2005.
BARBA, Eugenio & SAVARESE, Nicola. A dictionary of theatre anthropology: the secret art of the performer. Londres: Routledge, 1991.
FERRACINI, Renato. A arte de não interpretar como poesia corpórea do ator. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.
PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999.